FUTEBOL

Estádio Olímpico / Foto minha

BONS TEMPOS, AQUELES!...

De futebol, todos nós gostamos, certamente. Uns mais, outros nem tanto, mas no fundo cada um tem o seu time predileto e, ainda que discretamente, torce por ele. Alguns não gostam de discutir, outros adoram um "pega". O fato, porém, é que o futebol sempre nos influenciou de algum modo e não há quem a ele seja indiferente por completo.

Com algumas prováveis exceções, poucas coisas dividem os porto-alegrenses, sendo uma delas, a cor do clube do coração. Em tese, ou somos gremistas ou somos colorados. Mas eventualmente, essa predileção pode ser mesclada, por parte dos mais antigos, pela simpatia por um outro clube, que é estrategicamente ocultada, pois nem sempre, aqui em nossa Porto Alegre, houve apenas o Inter e o Grêmio, predominantemente, como é hoje.

Vocês sabem que eu sou gremista, ou pelo menos estão sabendo, agora. Desde muito cedo, eu sonhava Grêmio, eu vivia Grêmio, eu respirava Grêmio. Um dia inesquecível da minha infância foi um domingo, em que eu ia com o Pai ao Hipódromo dos Moinhos de Vento, pois ele adorava "investir" em "pules", "vencedores", "placês" (vêem como eu ainda lembro dos "termos técnicos"?) e, não sei porque ele resolveu que iríamos conhecer o "Estádio da Baixada", o templo sagrado, de então, do "meu" Grêmio. Foi emocionante andar pelo "pavilhão social", ver o gramado verdinho, as cercas pintadas de branco e azul, e ter a consciência e o orgulho de estar dentro da casa do meu clube que, até então, eu só conhecia pelas flâmulas, distintivos e emblemas que eu colecionava, pelo rádio e pelas fotografias do jornal - Folha da Tarde, Correio do Povo (o "grandão", com um monte de cadernos), Jornal do Dia, Diário de Notícias – de onde eu recortava TODAS as fotografias e guardava, com veneração, num álbum que eu mesmo fiz com aquele objetivo.

Apesar disto, eu gostava muito – embora não fosse torcedor fanático – do Cruzeiro. Talvez porque também era azul, mas o fato que mais me influenciou a simpatia pelo clube foi quando, como escolar, eu vim a conhecer o seu estádio e passei a freqüentá-lo pelo menos uma vez a cada ano. Era na "Semana da Pátria" – naquela época ainda se falava em Pátria e a Ela se venerava. Nessas ocasiões, as escolas da cidade reuniam os seus corais, os "orfeões" e, todos juntos, milhares de estudantes, tomavam lugar no belo Pavilhão do Estádio do Cruzeiro, a "Colina Melancólica" (ficava junto ao Cemitério da Santa Casa, onde hoje está o João XXIII, o que motivava o título melancólica) e cantávamos o Hino Nacional, o Hino da Independência e uma porção de músicas exaustivamente ensaiadas durante o ano, "a duas vozes", ou três, espalhando pelos ares acordes de indescritível beleza. Éramos acompanhados pela Banda Militar e regidos por um maestro que ficava lá no centro do gramado e tinha perfeito controle sobre aquela imensidão de estudantes vestidos com guarda-pós brancos, - gravatas para os meninos e "topes", para as meninas e calça (ou saia) azul-marinho impecáveis, - todos com uma fita verde e amarela em "v", ao lado do peito. Ficava-se "inchado" de orgulho, de alegria, de felicidade. Daí para gostar torcer pelo Cruzeiro, era questão de detalhe.

Claro que nesses tempos ditosos, havia o Internacional, (sempre o Inter, no nosso pé!), o glorioso e eterno rival, que tinha, também, o seu "templo", no aprazível e simpático "Estádio dos Eucaliptos", ali no Menino Deus, na rua Silveiro, que foi inaugurado no longínquo ano de 1912 e sediou jogos da Copa do Mundo em 1950. Grandes clássicos e aguerridas partidas foram realizadas naquele local. Mas a partir de 1969, quando foi inaugurado o "Beira-Rio", o estádio "dos Eucaliptos" foi sendo desativado e hoje poucos jovens sabem, ao menos, que ali aconteceram feitos memoráveis do futebol de nossa Cidade.

Mas Porto Alegre tinha também outros grandes clubes. O Renner, por exemplo, que em 1954 conquistou o Campeonato Gaúcho e foi o time base da Seleção Gaúcha no Campeonato Nacional. Um dos seus grandes ídolos, na época, pelo menos, lembro que foi o Breno, que terminou ficando famoso nacionalmente por ter sido o ator principal do filme "Orfeu do Carnaval". Esse filme chegou a ser premiado com Palma de Ouro. Se estou equivocado, alguém que saiba, me corrija. Muito do que eu estou relatando é de memória e pode ser contestado. O simpático time do Grêmio Esportivo Renner, quase imbatível no "Waterloo", como os seus torcedores chamavam o "Estádio Tiradentes", que ficava ali na Avenida Sertório, esquina da Farrapos, fechou em 1958 e não voltou mais.

E tinha o São José, o "Zequinha", no Passo da Areia, ainda em atividade, e de volta às divisõs principais. Depois de ter transitado por divisão inferior, provou que os grandes clubes sempre voltam ao topo da glória, pois o seu lugar lhes é próprio e não podem ser substituídos. (Os Grandes também descem a divisões inferiores, mas levantam, conquistando títulos que ainda lhes faltam no acervo de seus Memoriais).

E o Força e Luz, lembram? Poucos recordam do clube da Companhia de Força e Luz, que fornecia energia elétrica para a Cidade, antecessora de muito tempo da atual CEEE. Seu "Estádio da Timbaúva" ficava ali no Bom Fim, próximo do Hospital de Clínicas. Lamentavelmente, o que sobrou do querido Força e Luz, ou seja, o seu estádio, vai dar lugar, em breve, a um importante shopping Center. Aos poucos os marcos importantes da história da nossa Cidade vão sendo apagados, deixando na lembrança dos mais velhos as gratas recordações que, estas sim, permanecem, pelos menos enquanto estes existirem.

Vocês conhecem, ali no Menino Deus, o Supermercado Nacional, na José de Alencar, pouco antes da Getúlio Vargas? Pois bem. Ali era a "Chácara das Camélias", o Estádio do Nacional Atlético Clube. O Nacional era o clube dos Ferroviários e durante muitos anos competiu com a dupla Gre-Nal e os demais co-irmãos pelos campeonatos da Cidade. Vou pesquisar e ver se reconstituo alguma coisa da história do "Ferrinho". Independente disto, toda a colaboração que puderem dar será bem-vinda.

Para finalizar, não posso omitir dois outros grandes clubes, estes, não de Porto Alegre, mas da Região Metropolitana – na época nem se falava em "região metropolitana" – que participaram do campeonato de Porto Alegre e incomodaram a "dupla” diversas vezes. Um deles é o Aimoré, de São Leopoldo. O Outro é o Novo Hamburgo, clube que trocou de nome duas vezes. Durante a Segunda Guerra, tudo o que fizesse alusão à nação alemã era duramente vigiado e até vetado, pelas autoridades brasileiras. Foi o caso do Novo Hamburgo, que terminou tendo o seu nome mudado para "Floriano". Assim, permaneceu por bastante tempo, até ter restabelecido seu nome tradicional.

Todos esses clubes integraram, até o final da década de 50, a "Divisão de Honra" da Federação Rio Grandense de Futebol, atual Federação Gaúcha de Futebol – FGF. Daí para cá muitas coisas mudaram, permanecendo apenas as rivalidades – sadias e naturais – e a busca constante de superação para ver "quem é o melhor". (Eu sei quem é o melhor, mas não vou dizer para não ferir suscetibilidades). Enfim, acho que vale este registro, pois gosto de falar de coisas da minha Porto Alegre que, esta sim, não é causa de polêmica nem divisão entre nós, ou entre quem quer que seja.

Ao terminar, peço que notem que em nenhum momento eu falei em “Estádio Olímpico Monumental”, em “Largo dos Campeões”, em “Campeão do Mundo” ou “Bi-Campeão da América”. Nem em “Campeão da Segundona” – o ÚNICO título que ainda faltava por lá e que fomos buscar com garra e determinação. Tudo isto em respeito aos “valorosos co-irmãos”. E garanto-lhes que não vou abrir a boca sobre isto, nem tecer qualquer comentário, mesmo que sutilmente. Afinal, são “meros detalhes”.

Evandro

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Texto revisto e atualizado. Publiquei originalmente no meu Space “NÓS AQUI”.

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P. S. - Na época em que escrevi este texto, o mais recente clube, o Porto Alegre Futebol Clube, de nosso ídolo Assis, ainda estava se estruturando e não tinha nenhuma projeção, motivo pelo qual ele não foi mencionado. Atualmente (estamos em julho de 2010) ele também está "em recesso", pelo que parece.  Espero que num futuro próximo possamos incluí-lo em outra matéria.

Um comentário:

Evandro disse...

Sobre o nosso querido ESPORTE CLUBE CRUZEIRO.

Depois que saiu da "Colina Melancólica", este clube "subiu o Calvário". Esteve por muitos anos inativo. Todos imaginavam que ele tinha desaparecido. Então, ressurgiu sutilmente no Morro Santana, na Avenida Protásio Alves, onde sobreviveu até recentemente.


Agora está se transferindo para a Cidade de Cachoeirinha, onde terá seu novo Estádio.

Vamos torcer para que lá o Cruzeiro encontre melhor sorte, pois desde que seu belo estádio original foi demolido, dando lugar ao Cemitério João XXIII, ele tem passado por momentos demasiadamente melancólicos.

Evandro