MERCADO DE NOSTALGIAS
Nostalgicamente percorro as tendas repletas de coisas antigas. Nem sempre resisto à tentação de tocá-las. De segurá-las na mão e aproximá-las dos olhos, numa atitude instintiva de quem busca algo que ficou perdido num tempo que longe vai.
Aqui, vejo porcelanas decoradas com os mais delicados desenhos. Logo ali, cristais refletem os raios do sol matinal, produzindo, por sua refração, um incrível efeito luminoso que não sei como descrever. Ao lado, lustres compostos de centenas de pequeninas peças fitam-me pendentes de suportes estranhos.
Entre moedas, bronzes e pratarias, vislumbro louças e vasos, abajures e telefones, câmeras fotográficas, estatuetas, esculturas, ânforas e quadros, relógios e discos de vinil. Também há jóias. Colares. Pulseiras, brincos, anéis. Broches e camafeus. Ouro e prata, diamantes, esmeraldas e águas-marinhas. Que um dia foram utilizados rotineiramente, decoraram lares e ornamentaram senhoras elegantes.
Atrás de um biombo repleto de brocatéis, lenços de seda e vestidos em finos tecidos, revejo, depois de muito tempo, pesado reposteiro, muito semelhante àqueles das casas de nossas bisavós. Encontro retratos amarelados e cartões postais da Porto Alegre provinciana e de lugares mais distantes, na geografia e no tempo, como Estocolmo, Atenas ou Kioto dos tempos imperiais. E descubro revistas e livros. Em português e alemão. Em francês, italiano, espanhol e russo. Em japonês, chinês e esperanto. Primeiras edições. Raridades. Edições há muito esgotadas. História e política, biografias e viagens, crônicas, filosofia, ciências, romances, contos e poesia. Muita poesia!
Ah, a poesia da praça!... A poesia da rua. A poesia do Brique. Traduzida em cores e formas. Poesia em formato de gente também antiga e de gente mais jovem que vem aqui para passear. Mas também para procurar. Para pesquisar. Para buscar. Na tentativa de resgatar do passado um pouco do que foi se perdendo pelo caminho e do que só restaram vestígios e vagos fragmentos dispersos.
Evandro
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