NAVIO FANTASMA
Foi desde sempre o mar,
E multidões passadas me
empurravam
como o barco esquecido.
Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa.
- Mar Absoluto / Cecília Meireles (7 Nov 1901 – 9 Nov 1964) -
Era 6 de junho de 1976. Um dia de inverno, frio e ventoso, no litoral
Sul do Brasil. Vindo do Chuí em direção à Cidade do Rio Grande, o navio graneleiro
ALTAIR transportava sua carga de trigo, trazida da Argentina, com destino ao
porto de Natal, no Rio Grande do Norte. Na altura da Praia do Cassino, foi envolvido
por forte tempestade, deixando-se cair na mesma armadilha na qual outros 287 navios
foram vítimas nas costas do Rio Grande, desde que se tem registro de encalhes e
naufrágios naquela região.
Pertencente à Companhia Libra de Navegação (Santos, SP), o bonito navio
azul e branco, ostentando com orgulho o seu nome nos dois lados da proa, escrevia,
nesse dia, a última página de sua história, encerrada abruptamente de forma
melancólica e quase trágica.
Hoje, a uns dezesseis quilômetros do Centro de Rio Grande, indo-se para
o Sul pelas areias do Cassino, encontram-se os últimos vestígios do que foi o
Altair. São restos carcomidos e enferrujados, corroídos pela maresia que de
forma implacável vai apagando, para sempre, a imagem do que um dia foi um navio
bonito, pintado de azul e branco. Seu fantasma, talvez, ainda esteja a navegar
garboso pelos mares do mundo, ou à deriva, tentando inutilmente reencontrar a rota para um porto ao qual jamais chegará.
Evandro
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